O mundo está passando por uma importante transformação na sua matriz energética, e o Brasil está na vanguarda dessa mudança. Com mais de 80% da sua matriz elétrica baseada em fontes renováveis, o país está abraçando a produção de biogás, obtido a partir da decomposição de matéria orgânica por bactérias. Esse biogás, produzido a partir dos resíduos da cana-de-açúcar, tem se destacado como uma fonte promissora de energia renovável e está desempenhando um papel crucial na transição energética. Neste artigo, exploraremos a ascensão do biogás no Brasil, suas implicações e perspectivas para o futuro.
Biogás: A Próxima Pauta Global
O biogás, também conhecido como "gás do futuro," emergiu como uma pauta global na transição energética. Esse desenvolvimento é crucial para mitigar os impactos das mudanças climáticas e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. O Brasil, com sua abundante matéria-prima agrícola, está posicionado para se beneficiar significativamente dessa tendência global.
O processo de produção de energia a partir do biogás envolve o uso de um dispositivo chamado biodigestor, que converte a matéria orgânica em gás. Esse gás é então utilizado para acionar geradores de eletricidade, gerando energia limpa. Quando refinado para remover elementos como o dióxido de carbono, o biogás pode até substituir combustíveis fósseis, como o gás natural e o diesel.
O Crescimento da Produção de Biogás no Brasil
Atualmente, o Brasil conta com mais de 700 unidades produtoras de biogás em operação, e em 2022, 111 novas plantas foram inauguradas, representando um aumento de 16% em relação ao ano anterior. No entanto, muitas dessas unidades são de pequeno porte e estão localizadas em áreas rurais, onde o acesso constante à energia é um desafio.
Embora o crescimento da produção de biogás no Brasil seja notável, ainda está aquém de outros países. Na Alemanha, por exemplo, a geração de eletricidade a partir do biogás chega a 7.500 megawatts anuais, enquanto no Brasil, a capacidade instalada é de pouco mais de 420 megawatts por ano.
O Agronegócio e o Biogás
O Brasil, líder mundial na produção de commodities agrícolas como soja e cana-de-açúcar, possui uma abundância de matéria-prima para a geração de biogás. O setor agrícola tem se destacado na produção de biogás, respondendo por impressionantes 63% das novas plantas inauguradas em 2022. O investimento em equipamentos como biodigestores e geradores de energia elétrica, que podem custar cerca de R$ 500 mil, tem sido atraente para os produtores rurais, pois permite a utilização de resíduos que seriam descartados e garante um fornecimento constante de energia elétrica.
Além disso, grandes grupos empresariais estão explorando o potencial do biometano, que pode ser injetado em gasodutos e vendido como substituto do gás natural ou do diesel, criando oportunidades de mercado. A Abiogás estima que até 2029, o Brasil poderá contar com uma capacidade instalada de 6 milhões de metros cúbicos de biometano por dia, com investimentos na ordem de R$ 9 bilhões.
Grandes Empresas Investem no Biogás
Grandes empresas estão realizando investimentos significativos no setor de biogás no Brasil. Em outubro, a Jalles e a Albioma inauguraram uma usina em Goiás que deverá gerar cerca de 22GW de energia elétrica, contribuindo para o Sistema Interligado Nacional por meio da biodigestão da vinhaça. A evolução tecnológica na produção de gás renovável está reduzindo custos e tornando essa fonte mais atrativa para diversas aplicações.
O Futuro Promissor do Biogás no Brasil
O setor de biogás no Brasil está em crescimento e continua atraindo o interesse de usinas e empresas. A São Martinho, por exemplo, anunciou recentemente a construção da sua primeira planta de biometano com um investimento de R$ 250 milhões, prevendo a produção de cerca de 15 milhões de metros cúbicos de biometano a cada safra. Projeções indicam que até 2050, a produção total de biometano no Brasil pode alcançar 59 bilhões de metros cúbicos, especialmente devido aos resíduos gerados pelo setor agrícola do Sudeste e Centro-Oeste.
Esse biometano terá um papel crucial na descarbonização de setores como a fabricação de bens de consumo, transporte e distribuição de energia elétrica. Apesar do seu potencial, o biometano ainda é cerca de 65% mais caro do que o gás natural, devido ao uso de tecnologias em desenvolvimento e desafios logísticos.
Desafios e Oportunidades
O Brasil enfrenta desafios logísticos, uma vez que a maior parte da rede de gasodutos está concentrada nas regiões costeiras, enquanto a produção de biometano ocorre no interior do país. No entanto, o setor está explorando alternativas para reduzir custos e aprimorar a logística, incluindo o desenvolvimento de novas tecnologias e a busca por incentivos fiscais e políticas públicas que incentivem o uso do biometano na indústria de óleo e gás e no setor de transportes.
O futuro do biogás no Brasil é promissor, e o país está se consolidando como um importante produtor desse recurso renovável. À medida que a tecnologia avança e os investimentos continuam a crescer, o Brasil está preparado para desempenhar um papel significativo na transição global para fontes de energia mais limpas e sustentáveis. A jornada rumo a um futuro mais verde e sustentável está apenas começando.
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