Cidade Perdida no Oceano: A Chave para Desvendar a Origem da Vida na Terra?

Descubra como uma descoberta no fundo do Oceano Atlântico pode revelar segredos sobre o surgimento da vida no planeta e sua possível existência em outros mundos

Por Isabela Justo | 16/08/2024 | 6 Minutos de leitura

A descoberta de uma "cidade perdida" no fundo do Oceano Atlântico tem atraído a atenção de cientistas e entusiastas da ciência por mais de duas décadas. Com suas colunas imponentes de carbono, esse local, além de abrigar vida em condições extremas, pode fornecer pistas valiosas sobre como a vida na Terra começou. Este post explora as características únicas dessa descoberta, os avanços nas pesquisas mais recentes, e como esses estudos podem mudar nossa compreensão sobre a origem da vida, tanto no nosso planeta quanto em outros corpos celestes.

 

A Descoberta da "Cidade Perdida"

Em 2000, um grupo de cientistas fez uma descoberta surpreendente no fundo do Oceano Atlântico. A cerca de 700 metros abaixo da superfície, encontraram um sistema hidrotermal com formações geológicas únicas, agora conhecidas como a "Cidade Perdida". Esse local é composto por enormes colunas de carbono, algumas das quais atingem alturas superiores a 60 metros.

O que torna essa área especialmente interessante é a presença de vida em condições consideradas extremas. As colunas de carbono, formadas pela interação entre o manto terrestre e a água do mar, emitem gases como hidrogênio e metano, que alimentam um ecossistema peculiar. A "Cidade Perdida" abriga uma diversidade de vida marinha, incluindo crustáceos e caracóis, que conseguem sobreviver mesmo na ausência de oxigênio.

 

A Relevância das Colunas de Carbono

As colunas de carbono da "Cidade Perdida" são um dos aspectos mais fascinantes dessa descoberta. Elas se formam a partir de um processo chamado serpentinização, que ocorre quando a água do mar penetra no manto terrestre e reage com os minerais ricos em ferro e magnésio. Essa reação química gera grandes quantidades de hidrogênio e outros compostos, criando um ambiente rico em energia, mesmo nas profundezas do oceano.

Essas colunas são significativas por várias razões. Primeiramente, elas são uma evidência de que processos geoquímicos simples podem criar ambientes habitáveis em locais que, à primeira vista, parecem inóspitos. Além disso, a serpentinização é um processo que pode ocorrer em outros corpos celestes, sugerindo que ambientes semelhantes à "Cidade Perdida" podem existir em lugares como as luas de Saturno e Júpiter.

 

A Pesquisa Recente e Suas Implicações

Recentemente, uma equipe de 30 pesquisadores realizou a maior expedição já feita à "Cidade Perdida". Eles conseguiram coletar um volume recorde de amostras, incluindo um cilindro de rocha de 1.268 metros de profundidade, um feito inédito em estudos oceânicos. As amostras coletadas oferecem uma oportunidade sem precedentes para entender os processos que ocorrem nessas profundezas e que podem ter sido fundamentais para o surgimento da vida na Terra.

Frier Klein, um dos pesquisadores envolvidos, destacou a importância dessas amostras para o estudo das condições que podem ter gerado a vida no planeta. O material coletado permitirá uma análise detalhada da composição mineral e das reações químicas que ocorrem nessas rochas, oferecendo novas perspectivas sobre como a vida pode ter surgido em ambientes semelhantes.

 

"Cidade Perdida" e a Origem da Vida

Um dos maiores debates na ciência é como a vida surgiu na Terra. Muitos cientistas acreditam que a vida começou em ambientes ricos em energia, como os encontrados em fontes hidrotermais no fundo dos oceanos. A "Cidade Perdida" oferece um exemplo perfeito desse tipo de ambiente, onde reações químicas entre rochas e água podem ter criado os blocos de construção da vida.

As fontes termais da "Cidade Perdida" emitem não apenas calor, mas também uma variedade de compostos químicos que poderiam ter servido como nutrientes para as primeiras formas de vida. A presença de hidrogênio e metano, em particular, é crucial, pois esses gases podem alimentar microrganismos que não dependem de oxigênio, sugerindo que a vida poderia ter surgido antes da atmosfera terrestre conter oxigênio.

 

A Conexão com Outros Mundos

A descoberta da "Cidade Perdida" não apenas fornece insights sobre a origem da vida na Terra, mas também tem implicações para a astrobiologia – o estudo da vida em outros planetas. Ambientes semelhantes foram propostos para existir em luas como Europa, de Júpiter, e Encélado, de Saturno. Ambos os corpos celestes possuem oceanos subterrâneos que podem estar em contato com o manto rochoso, criando condições similares às encontradas na "Cidade Perdida".

O microbiologista William Brazelton comentou que o estudo da "Cidade Perdida" pode fornecer um modelo para entender como a vida poderia existir nesses ambientes extraterrestres. Se vida semelhante àquela encontrada na "Cidade Perdida" pode prosperar em locais como Europa ou Encélado, isso poderia expandir enormemente o número de lugares onde a vida poderia existir no universo.

 

As Amostras Coletadas e o Futuro das Pesquisas

A recente expedição à "Cidade Perdida" resultou na coleta de uma das mais completas amostras de rochas do manto terrestre já obtidas. Essas amostras são cruciais para entender os processos geoquímicos que ocorrem no fundo do oceano e como eles podem ter contribuído para o surgimento da vida.

As amostras incluem uma variedade de minerais e estruturas que podem revelar muito sobre as condições no interior da Terra primitiva. A análise dessas amostras está apenas começando, mas os cientistas esperam que elas ofereçam novos insights sobre como a vida pode surgir em ambientes extremos.

 

A Importância das Descobertas na "Cidade Perdida"

A "Cidade Perdida" continua a ser um local de grande interesse científico, não apenas por sua singularidade, mas também pelo que pode nos ensinar sobre a vida em ambientes extremos. A pesquisa nesse local pode fornecer pistas sobre como a vida começou na Terra e onde mais ela pode existir no universo.

Além disso, essas descobertas têm o potencial de impactar a busca por vida em outros planetas. Se ambientes semelhantes à "Cidade Perdida" podem sustentar vida na Terra, então é plausível que vida possa existir em condições análogas em outros mundos.

 

Conclusão

A descoberta e estudo contínuo da "Cidade Perdida" no fundo do Oceano Atlântico representam um marco na ciência moderna. Este local único não apenas abriga formas de vida em condições extremas, mas também oferece uma janela para o passado da Terra e para a possibilidade de vida em outros planetas. À medida que os cientistas continuam a explorar esse ambiente fascinante, as respostas para algumas das perguntas mais fundamentais sobre a origem da vida podem finalmente estar ao nosso alcance.

A "Cidade Perdida" nos ensina que a vida pode prosperar em lugares inesperados e que as condições necessárias para a vida podem ser mais comuns do que imaginamos, tanto na Terra quanto além dela. A pesquisa nesse local continuará a fornecer valiosas contribuições para a ciência, potencialmente revelando novos caminhos para a compreensão de nossa própria existência e da vida em todo o universo.

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Isabela Justo


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